“É no campo da vida que se esconde um tesouro.

Vale mais que o ouro, mais que a prata que brilha.

É presente de Deus, é o céu já aqui, o amor mora ali e se chama família.”

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

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Mulher Maravilha





Estou há um bom tempo conversando (virtualmente) com uma mãe de SP que está desesperada com o diagnóstico de Paralisia Cerebral em sua filha de 7 meses.
Ela tem passado por dias muito difíceis e em um dos e-mails que recebi dela essa semana, ela me perguntou como foi que sobrevivi a essa reviravolta na vida, quando se descobre que seu filho será “diferente”.
Putz... como responder a uma pessoa sem poder olhar em seus olhos quando se trata de um assunto tão delicado?
Como encontrar as palavras certas quando as vezes só o abraço como resposta surgiria muito mais efeito?
Como eu disse, a conversa é virtual, então tenho sempre que usar as palavras corretas...
Não vou dizer que foi fácil. Na verdade, relato isso sempre aqui, mas como a cada dia o blog tem mais leitores, as vezes temos que repetir o que já dissemos e o que já vivemos e porque não, reforçar, relembrar e reviver.



Eu fiquei gravemente abalada conforme fui tendo noção de como provavelmente a Camila seria após entender o que era Paralisia Cerebral. Ao contrário do que muitos fantasiam, não tirei de letra. Não sei o porquê, mas existe uma ideia estapafúrdia de que quem tem um filho especial tem que, pelo menos parecer herói, pelo menos a mãe, a heroína destemida.
Nãnanina não! Quem recebe uma notícia dessas não consegue ter pensamentos belos. Bem... eu não conseguia. A cobrança de positividade acabou se tornando um problema.
Me olhei várias vezes no espelho e me achava pronta para fazer figuração em qualquer filme de terror, de tão abatida, zumbisão mesmo!
O Segredo da Cabana, A casa Silenciosa, Diários de Chernobyl ou Atividade Paranormal... nestes filmes de terror, eu atuaria muito bem!
Achava que não tinha chance alguma de tirar de letra a árdua tarefa e obrigação de cuidar de uma criança deficiente.
Achava que só quem tivesse pensamentos positivos, sobreviviam a essa batalha.
Deixei de me cuidar...
O casamento também acabou, culpa de meus erros (da outra parte também) e prematuridade diante de tantas coisas novas e diferentes. Totalmente diferentes eu diria.
Na minha cabeça era esse o pensamento que reinava ... Sem chance!
O mundo moderno é incrível. Tudo é maravilhoso, não existe sofrimento! As separações são sempre amigáveis e sem lágrimas, as mães não tem mais o direito de embarangar e ficar em casa lambendo a cria. Um mês depois estão lindas, magras, com barriga sarada...
Vem cá, só eu que não moro na Disney?
Hoje percebo que precisei viver toda essa fase difícil para me tornar a pessoa que sou hoje, que não sofre tanto como no início e que hoje é muito mais confiante..
Claro que outras angústias vieram com o tempo...O medo do amanhã, o medo de não ter condições de dar o melhor e a melhor qualidade de vida para uma criança que requer tanto e tudo aquilo que vocês já sabem e que tanto compartilho aqui.
Chorei anos a fio  pelas dores de não ter realizado o sonho de ter uma filha “normal” e por não poder ter brincado de casinha com ela, com bonecas, as brincadeiras de meninas, o emprestar os sapatos para que ela colocasse os pés pequenos em meus sapatos como eu fazia com os da minha mãe quando criança. Vestir roupas da mamãe. Pegar escondido os esmaltes e as maquiagens.
Se pintar de uma forma errada, porém muito colorida. Brincar!

Me dei o direito de chorar e me descabelar quando me vi sozinha e totalmente perdida.
Só não chorei lágrimas de sangue... me dei esse direito de ser humana e me desesperar sim! A Mulher Maravilha mora na televisão.
Eu não!
A Mulher Maravilha dá aquele giro e sai linda e poderosa correndo para salvar pessoas. Se eu fizesse a mesma coisa cairia com a cara no chão e nem sei se teria forças para levantar. Choraria sem parar até morrer.
Então meu giro foi bem devagarzinho segurando na mão de minha mãe  e de meus queridos amigos e familiares.
A madrinha da Camila que infelizmente não está mais conosco, foi uma pessoa que me ajudou muito.
Sinto muita saudades dela, pela força, companhia e amizade.
Girei também amparada pela equipe médica da Camila e aos poucos foram me orientando e ensinando o melhor caminho.
Fiz muitas amizades nesses 10 anos de vida da Cá e muitas dessas amizades, são tão puras e verdadeiras que não me imagino mais vivendo sem essas amigas mães especiais.
Hoje já consigo girar sorrindo, brincando e feliz.
Nem é tão difícil ser mãe de criança especial... A gente aprende e se transforma num ser humano muito melhor.
No meu blog  virei  praticamente uma conselheira e esse giro acaba salvando a mim mesma.
Ouvi muitas vezes a respeito da seleção divina. Muitas pessoas bacanas e crianças são acometidas de doenças e deficiências todos os dias. Alguns destes, morrem!
Não sei nem o que pensar sobre isso...
Não sei se fui escolhida ou foi o acaso.
Só sei que sou muito melhor que dez anos atrás...
E essa mãe que hoje se desespera, será muito melhor daqui um tempo.
Daqui um ano? Dez como eu?
Não sei, só sei que será... e será conselheira também e vai tirar de letra.
Basta viver cada dia e cada batalha de uma vez.
O caminho se faz ao caminhar...


5 comentários:

  1. Lindo post, amiga! Com certeza ajudará muitas pessoas!

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  2. Pra mim você será sempre uma super mãe!!
    A melhor que a Camilinha poderia ter.
    Beijo

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  3. Valéria, achei maravilhoso, seu texto de hoje. Li, me emocionei, vivi mts momentos parecidos com o que vc relatou que viveu, não é fácil mesmo, viver o desconhecido....um mundo diferente, que nem imaginávamos que iríamos passar, mas como nada acontece por acaso, um dia saberemos os pqs....as voltas e reviravoltas que a vida nos dá, mas graças a DEUS que tudo passa e com o tempo as coisas vão se ajeitando e acabamos vivendo de maneira normal, dentro do possível.VOCÊ é uma pessoa especial tbm, escolhida por DEUS,esta neste mundo com um propósito, o de poder ajudar, confortar, mostrar, como é a vida de uma família com criança especial, dando o seu exemplo de superação, mostra a tds nós que problemas, dificuldades, dúvidas, tds tem, mas que o tempo, a paciência, a fé e principalmente o AMOR é o melhor caminho.Adoro vc e tda a tua família, rezo a DEUS tds os dias que Ele continue iluminando e guiando a vida de vcs, que vcs sejam mto felizes e que vc continue esta pessoa querida e iluminada que vc é. VC é sim uma super mãe, super mulher e super amiga.BJ a tds,Lenice

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  4. Me fez chorar!!!

    Penso como Gabi seria hoje aos 10 anos de idade, se fosse "normal".

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  5. Realmente, ouvir pela primeira vez o diagnóstico "paralisia cerebral" nos remete a uma falsa impresão de que nossos filhos não terão uma vida feliz e, consequentemente, nós mães, também não. Há várias fases. A fase de aceitação é a mais importante na minha opinião. Estou na caminhada (meu bebê tem 3 anos) e precisei de mães especiais ao meu redor para tornar os passos mais fáceis. Mães como você. Eu também quero poder ajudar as pessoas. Parabéns. Você e Camila são mais que vitoriosas. Eu me sinto mais mãe do que qualquer mãe de 10 filhos. Você também é uma mãe superior...

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