3650 DIAS
Hoje quando acordei, desci as escadas e fui direto para o quarto da Camila. Fiz algo que há tempos não fazia: uma oração.
Agradeci a Deus pela sua vida.
Há exatos dez anos atrás, o dia de hoje mudaria toda a minha vida. Me tornaria mãe, mãe especial de uma criança especial.
Acordei as 04:00 da manhã com intensas dores, como nunca havia sentido. Minha intuição já dizia que seria no dia 12 de dezembro de 2001 que a Camilinha chegaria a esse mundo.
Havia realizado meu pré-natal e nada havia sido diagnosticado de errado, nem comigo nem com ela.
Só para quem passou por essa experiência sabe do que estou dizendo. É uma mistura de sentimentos: alegria por logo ter seu filho nos braços, dor, alias muitas dores, medo do novo, euforia, agitação, etc.
As 07:00 da manhã já com dores insuportáveis, me dirigi para o hospital com o pai da Camila e minha mãe, sendo atendida pela médica plantonista que averiguando que as primeiras contrações maternas sentidas desde o final da madrugada daquele dia, já se encontravam em grau 3 de dilatação, concluiu que realmente ela estava por nascer. Todavia a médica me mandou de volta para casa e que retornasse ao hospital somente quando as contrações fossem mais longas e duradouras. Isso que era convênio... Não entendo o porquê não me permitiram ficar no hospital sendo que ela mesma me disse que a minha filha estava para nascer.
Bobinha que era (hoje não mais), segui a orientação dada pela médica e retornei para minha casa, com dores extremamente INSUPORTÁVEIS.
Por volta das 13:00, intensificadas as dores, retornamos para o hospital e fui internada imediatamente.
Já estava com 7 de dilatação e lembro como se fosse hoje que levei uma bronca por ter demorado a ir para o hospital. Como assim??? Eles mesmos me mandaram voltar pra casa!!! Não tinha autonomia para fazer meu próprio internamento e ganhar minha filha na hora que eu quisesse.
Me disseram que em torno de 1 hora minha filha iria nascer, ou seja, no máximo até as 14:30, mas as coisas não saíram bem assim...
Camilinha nasceu as 20:05, horas depois e com sofrimento fetal.
A sua respiração era difícil. Teve convulsão já nos primeiros minutos de vida e estava toda roxinha. Imediatamente após o nascimento dela, fui levada para um corredor anexo a sala de parto, sem compreender o que estava acontecendo. Não me trouxeram minha filha, pois ela deveria ser transferida com urgência para outro hospital. Após uns 40 minutos mais ou menos, ali angustiada, o médico diretor técnico do hospital veio até mim e me explicou tudo o que aconteceu. Disse que o parto foi difícil e por essa razão, ela tinha aspirado o líquido amniótico e mecônio.
Nessa hora, mesmo sem entender ainda o que estava de fato acontecendo por estar cansada do parto e muito mau também, tentei manter a calma e pensar.
Apenas depois de 7 dias, quando conheci minha filha quando fui até o outro hospital para onde ela foi transferida, é que meu mundo desabou.
O dia de hoje é um dia especial para mim.
Dia onde comemoro o aniversário dela duplamente, por ter renascido.
Por ter vencido a morte quando os médicos diziam todos os dias que ela não resistiria.
É um dia difícil também, pois muitas coisas mudaram depois que minha filha nasceu.
O sonho de vê-la me acompanhando em tudo que eu fosse fazer, passeios, viagens, finais de semana... Essas coisas nos foram tomadas.
Esses sonhos!
É triste ter alguém que nós amamos tanto preso a uma cama, limitada e privada de muitas coisas.
Filha amada, quero hoje de parabenizar pelo seu dia e te agradecer por ter me tornado um ser humano muito melhor depois que você me foi dada.
Com lágrimas
Valéria