“É no campo da vida que se esconde um tesouro.

Vale mais que o ouro, mais que a prata que brilha.

É presente de Deus, é o céu já aqui, o amor mora ali e se chama família.”

domingo, 31 de julho de 2011

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É o carro do sonho que está passando...

Tivemos um final de semana bem agitado. Ja começando na sexta-feira com o anivesário na casa da Simone, estendeu para o sábado e ainda no domingo.
Como a Camila permanece com o gesso, o jeito foi receber familia e amigos em casa porque é complicado sair com ela assim. A previsão para Curitiba e região era de muita chuva, então não tinha como sair mesmo. Fizemos um acampamento em casa e convidamos os priminhos para virem dormir. Só na sala haviam quatro crianças. A Camila adorou o agito.
No sábado, a tia Mônica (irmã da minha sogra) e a Suzana (minha sogra), me ajudaram a dar banho na Camila. Fizemos uma hidratação no cabelo dela. A tia Mônica disse que o quarto estava mais parecendo um Spa.
Ficou muito cheirosinha!!! Meu Deus, não vejo a hora de tirar esse gesso!!!!

No sábado ainda, estavamos em casa, o Alex dando banho no Manu, quando ouvi um carro passando na rua com um alto falante e vendendo sonho. Falei pro Alex que desceria pra ir comprar sonho para comermos no café da tarde. Quando fui de enconto ao carro, vi duas crianças pequenas, uns dois ou três anos no máximo. Eram dois meninos. Fiz um comentário com o vendedor sobre quão lindos eram os meninos. Eram mulatinhos de cabelos encaracoladinhos e compridos. Um capricho de crianças. Elogiei, disse que eram lindos e o vendedor de sonhos disse que fica muito feliz quando elogiam porque ele cuida dos filhos sozinho. Os pequenos acompanham o pai  quando ele sai para as vendas.
Disse pra ele passar na nossa casa no próximo sábado que vou separar roupas e calçados do Manu. Fiquei impressionada e emocionada. 
Papai do Céu, abençoe esse rapaz e seus filhos!
E todos os nossos amigos e suas famílias. Que essa semana possa ser muito abençoada.
Amém!

Por quem você "nadaria de braçada"?



As minhas lembranças não possuem datas. Nelas, há lugares. Cheiros. Sensações que nunca foram embora. Gente. Muita gente. E com elas a permanência de um "Dèjá Vu". Gente comum. Gente tão diferente...
Assim era Inês.Diferente, com sua simplicidade, que chegava a incomodar... Mãe de 3 filhos. Portadores de microcefalia. Duas meninas e um menino. Trigêmeos. 05 anos de idade.Inês morava no médio Araguaia, lá no Tocantins. Quem a descobriu lá e a seus filhos, foi um médico, do Exército, que passou por aquela região, quase esquecida, do Brasil.Diz ela, que quando o médico viu as três crianças num catre (Sim! Num catre! Inês não tinha cama e nem colchão!) ele não pareceu um "médico soldado", forte e corajoso: sentou na escada, colocou as mãos no rosto e começou a chorar, convulsivamente...
As crianças de Inês eram cegas. Não falavam. Não andavam. Não havia um só ponto de comunicação com o mundo exterior! E por pouco, Inês não acredita quando ele avisa que voltará para busca-la e às suas crianças, para levá-los à um grande hospital, em Brasília. E Inês me conta, que o pai foi contra:"As crianças vieram ao mundo assim, para quê mudar a natureza? Para quê hospital? Nós não temos do melhor, mas a gente cuida tão bem deles: coloca no sol, alimenta como pode, veste direitinho. Liga o rádio e eles adoram... E cantarola pra mim um pedacinho da música do Leonardo, que segundo ela é o cantor que as crianças mais gostam: "É sempre assim.. A gente chega de alma transparente, joga aberto e limpo, como eu joguei... "Quando há romaria de Nosso Senhor do Bonfim, a gente leva as crianças...Não carece de hospital, não, moço!.... "Mas o "moço" voltou. E todos eles foram ao hospital, onde fizeram muitos exames. E de lá foram transferidos para um grande Hospital de Belo Horizonte. Para quê? Ora...para pesquisas e mais pesquisas e para que os médicos de BH pudessem ver de perto um caso raro como esse! Só por isso! Mas, Inês, em sua simplicidade, não sabia disso....
E andava por todos os setores do hospital, com suas três crianças, contando sua história.
Sempre muito sorridente, se apaixonou pela Alice. "Uma lindura" , ela dizia.
Contam-me no Hospital , que a família toda sobrevivia da pesca. Tanto financeiramente, como alimento, mesmo! As roupas, remédios e brinquedos (quando vinham) eram doações do próprio Exército Brasileiro.As crianças estavam desnutridas e com escaras profundas. Inês nunca tinha visto ou colocado nos filhos, uma fralda descartável. Nunca tinha visto tanta comida, como a que ela via agora, no refeitório, do Hospital Sarah ("a dona ainda vêm trazer pra gente....ora essa!). Não assistia TV (Ora...a gente não têm desses luxos, não!).
Eu a ajudei à dar banho em Camila (sempre ausente, sossegada....). Fiquei com vergonha de mim. Dos meus luxos. Das minhas exigências para viver: Inês nunca tinha tomado, ou dado nos filhos, um banho de chuveiro. Não sabia como abrir uma torneira tão diferente como aquela.... Emprestei o perfume da Alice, para ela passar em Camila. Depois toda hora, Inês repetia: "Camila agora tá com xerô de Alice!". Inês não têm noção da gravidade da microcefalia. A deficiência mental das três crianças é severa. A face é achatada, por comprometimento ósseo. O menino possui uma má formação cardíaca. Uma das meninas necessita de um transplante renal. E os três possuem os dedos das mãos interligados, como se fossem pés de pato. Os movimentos corporais eram produzidos por espasmos ou convulsões. E os três possuem lordose ou escoliose. Para alimentá-los, só comida amassada, muito bem amassada, pois eles não conseguiam deglutir.Não sabiam (podiam?)mastigar. E o menino, já havia tido pneuomonia de repetição. Nenhum tipo de comunicação verbal. Nem emocional.
Mas Inês mantinha um diálogo com eles (que chegava à ser cumplicidade), que eu jamais vi igual: quando começavam a emitir sons, que mais pareciam grunhidos, ela os acalmava, passando as mãos em seus cabelos e conversando ou cantarolando baixinho, alguma música do Leonardo.
Ela me conta, que o que ela mais tinha desejado era que os filhos tivessem a visão, assim: "Eles poderiam enxergar que beleza era o Rio Tocantins, na cheia!". Para estar no Hospital , de Brasília, ela precisava atravessar o Rio Tocantins de balsa. Chegar até Palmas. De lá viajar de ônibus, por seis ou sete horas, até chegar em Brasília!
Conto pra ela, que estou envergonhada... Saio de Barbacena às 04h. Viajo só três horas para chegar em Belo Horizonte....Pôxa! digo eu. "Atravessar um rio, de balsa, com três crianças.... "E ela me diz, baixinho, como se me contasse um segredo:
"Se eu soubesse antes, que esse hospital podia melhorar os meus filhos, já tinha atravessado o rio de braçada...!"

4 comentários:

  1. Linda a Camilinha,também tenho uma meinina especial, pc e é uma benção em nossas vidas,um grande aprendizado...

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  2. Estamos com saudades......

    Beijo grande.

    Boa semana!!!!!!!!!!!!!!!!

    Rosa/Lara

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  3. Oie Valéria obrigada pela visita em meu blog e por me seguir,realmente completei 100 menbros,mas são mais que isso ,são 100 amigos ,100 histórias a maioria de luta contra a morte para a sobrevivencia,100 trocas de experiência de vida. Aprendi muito com o blog, ajudei também com minha experiência, acima de tudo minha filha ganhou muito através do blog,fui atrás da técnica Medek,e descobri uma pessoa na minha cidade q aplica e foi realmente maravilhoso para sua evolução;fizemos ensaio fotografico ,difulcando para o mundo, que não importa as diferenças o que importa é o amor.E além de tudo isso e mais um pouco,é mostrar que nossos filhos também podem....Bjnhos...

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  4. Me emocienei com a história, linda mesmo...Estela

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